Amor Selado                          

As cartas do nosso amor que por amizade selamos.

terça-feira, 28 de março de 2006

Querido Pedro,
Hoje sinto-me em ti, não quero respeitar as regras absurdas das cartas bem estruturadas, não quero perguntar como estás, não quero. Foi uma das melhores coisas que me ensinaste: quebrar regras.
Escrevo-te esta carta sentada na janela, uma perna dentro do quarto que já não reconheço como meu, outra perna sente o vento que traz em si o som do sentir. Vou-me deixando invadir pelo ar e quase flutuo.
Dizes que não queres pedir perdão por o que disseste ou fizeste, e ainda bem, jamais te perdoaria se o fizesses. Adoro-te assim, por seres a folha que me pousa no colo numa tarde de Verão em que as folhas devem estar bem agarradas à arvore, por teres a coragem de pousar sem medo que eu te lance ao chão. Por teres sido essa folha, por não teres medo da imagem que gosto de passar, mulher fria e firme, é que aprendi a amar cada recanto da tua alma, cada pedacinho de ar que és.
Não quero esquecer a Quinta-feira, não posso. Ao ponto que a loucura nos levou... abdicámos daquele sentimento irritante que nos corrói por dentro pela amizade e quase a atirámos pela janela, com a mesma violência com que quase atiraste a mesa.
Não te deixes assustar pela ausência duma carta, assusta-te antes com o peso da presença ausente.
Vou-te imaginando estes dias em que o som da razão não basta para me deter. Quase consigo ver-te agora, sentada no parapeito da janela: completamente afundado no puff azul, a sala iluminada apenas pela televisão, vejo-te puxar o fio que trazes ao peito, não consigo evitar sorrir e baixar a cabeça ao imaginar que vais passando o meu anel pelos teus lábios... é nestes momentos em que me sinto mesmo louca, ao tingir o mundo das cores que bem me apetece quando as mesmas cores que adoro são exageradamente berrantes e impossíveis de juntar sem que pareçam uma pintura dum miúdo de dois anos.
"Não andei descalço na fonte. Não fui capaz. Não pelo frio, mas porque depois seria incapaz de to contar, e teria de te mentir." Foi o que me disseste há pouco tempo antes... porque foste capaz de mo contar agora? O que mudou no teu sentir para que agora que me possas revelar a verdade?
Confesso que ao deixar a decisão da continuidade das cartas na tua mão me amedrontei. E se decidisses mesmo parar? O que seriam os dias sem o teu cheiro no papel?
Se soubesses a saudade, ou mesmo o desespero com que agarro o beijo que me mandas e o aperto contra o coração, talvez fujisses: sempre me disseste que odiavas o sorriso nos lábios de quem já não se pode levantar mais.



2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É assim gentes...juntem-se de vez pleasee....estais ambos a sofrer e assim não faz sentido...juntem-se e deixem a felicidade invadir-vos e agradeçam todos os dias por se terem um ao outro e...permitam-se a ousadia de serem felizes!!

29.3.06  
Blogger TatianaCarvalho said...

Heia pá!!! ainda tou banzada e já li a carta duas vezes mais akela frase ("Não te deixes assustar pela ausência duma carta, assusta-te antes com o peso da presença ausente.") 5 vezes pk tem o k se lhe diga...
Chiça!! c'o a breca! Esta carta é de chorar pitangas!
Como já disse ao Sr.engenheiro esta parte é tão boa que nem tem comentario possível
"Adoro-te assim, por seres a folha (...) cada pedacinho de ar que és." é tão boa, tão bonita que nem tem comentário possível! Parabéns Helena! E já agora, sofram praí à vontade, que kto mais desesperados ficais melhores são as cartas. E que nem vos passe pela cabecinha serem felizes!

29.3.06  

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