Querido Pedro, Não te queria responder. Queria deixar-te a desesperar com a ausência de uma carta, obrigar-te a olhar pela janela para veres a luz acesa, obrigar-te a interrogar o que de tão importante estou a fazer para nem sequer te dar uma resposta, por curta que seja. Respondo-te apenas e unicamente pelo mesmo motivo que me levou a atirar-me para o chão no outro dia. Na minha última carta relembrei-te os insultos que ofereciamos um ao outro quando uma discussão rebentava sobre as nossas cabeças. Chamava-te egoísta, e volto a fazê-lo agora e quase me apetece bater-te por isso. Os meus receios não são fingidos, eu tenho medo de estar louca. Todos me olham como tal, o olhar dos que me rodeiam grita "Não liguem, ela está louca sabem?". Ignoram-me e tu ignoraste-me também. Tu, que juraste nunca ser um deles. Tu que juraste nunca pertencer ao mundo enfeitado de flores de plástico em que os outros vivem. Mas foi uma flor de plástico a tua última carta. Hoje sou eu que te interrogo como o garoto da televisão "Porquê?", porque é que ignoras os medos que me consomem? Porque me falas do cobertor vermelho quando tudo o que vejo se tingiu irremediavelmente de um encarnado que me fere e quase cega os olhos? Porque me ignoras como se eu realmente fosse louca? Quanto ao almoço de família, todos os olhares, excepto o da minha querida avó, me gritavam que mereço toda a minha angústia. Porque sou uma pessoa má, tenho a sorte de ter uma pessoa boa como tu e ainda por cima rejeita a sorte que tem. Odeio-os, a todos (claro que a avó não se insere neste grupo). Porque pensam que família é aquela coisa que aparece nas fotografias em ocasiões como um casamento, ou qualquer coisa que se assemelhe, e onde possam comer de graça. Odeio-os porque nunca me souberam amar, porque só aprenderam a amar o nosso amor quando já não tinham que suportar ao vivo a nossa felicidade. Detesto o mundo em que fui lançada à minha sorte. Detesto pensar na minha felicidade enquanto música numa outra vida. Detesto não poder ser sempre feita de compassos pausas e emoções prazerozas. Detesto a maneira como fecho os olhos cada vez que te despedes com um beijo, e detesto ver o meu anel reluzir no parapeito da tua janela. Tira-o daí, por favor... está a deixar-me louca. |
Amor Selado
As cartas do nosso amor que por amizade selamos.
3 Comments:
Uma pedra lançada no rio implica a agitação das águas k estavam paradas e de repente ficaram revoltadas. a loucura tb faz parte do amor. Gostei mt desta carta.
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Sim Helena, estás efectivamente louca! Não, não estás. Já alguma vez ouviste um louco dizer que está louco? Não. Isso porque eles acham sempre que são mto saudáveis e que outros todos é que não são deste mundo.
Mas realmente faltam-te uns parafusitos...
"Odeio-os porque nunca me souberam amar, porque só aprenderam a amar o nosso amor quando já não tinham que suportar ao vivo a nossa felicidade." deve ser dificílimo suportar a felicidade...ui...ui!O Sr. nos Livre!
Apesar disso devo confessar que gostei muito da metáfora das flores de plástico... oh oh, como tens razão... flores de plástico é o que há mais por aí...
E gosto que este blog seja saudável... primeiro os actimeles (que já n sei a que propósito eh que vieram) e ag os essenciais aki retratado no puto dos porquês. Vocês têm pinta, sim sra.
Oh helena, tas nada louca, tas é confusa e baralhada e não sabes se estás a fazer e se não te irás arrepender. Acredita que eu passo por mil momentos desses, mas no fim tudo se resolve pelo melhor...e a tua familia adora-te de certeza...tem calma e tudo correrá bem.
Beijinho
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