Amor Selado                          

As cartas do nosso amor que por amizade selamos.

terça-feira, 21 de março de 2006

Querido Pedro,
Não te queria responder. Queria deixar-te a desesperar com a ausência de uma carta, obrigar-te a olhar pela janela para veres a luz acesa, obrigar-te a interrogar o que de tão importante estou a fazer para nem sequer te dar uma resposta, por curta que seja.
Respondo-te apenas e unicamente pelo mesmo motivo que me levou a atirar-me para o chão no outro dia.
Na minha última carta relembrei-te os insultos que ofereciamos um ao outro quando uma discussão rebentava sobre as nossas cabeças. Chamava-te egoísta, e volto a fazê-lo agora e quase me apetece bater-te por isso.
Os meus receios não são fingidos, eu tenho medo de estar louca. Todos me olham como tal, o olhar dos que me rodeiam grita "Não liguem, ela está louca sabem?". Ignoram-me e tu ignoraste-me também.
Tu, que juraste nunca ser um deles. Tu que juraste nunca pertencer ao mundo enfeitado de flores de plástico em que os outros vivem. Mas foi uma flor de plástico a tua última carta.
Hoje sou eu que te interrogo como o garoto da televisão "Porquê?", porque é que ignoras os medos que me consomem? Porque me falas do cobertor vermelho quando tudo o que vejo se tingiu irremediavelmente de um encarnado que me fere e quase cega os olhos? Porque me ignoras como se eu realmente fosse louca?
Quanto ao almoço de família, todos os olhares, excepto o da minha querida avó, me gritavam que mereço toda a minha angústia. Porque sou uma pessoa má, tenho a sorte de ter uma pessoa boa como tu e ainda por cima rejeita a sorte que tem. Odeio-os, a todos (claro que a avó não se insere neste grupo). Porque pensam que família é aquela coisa que aparece nas fotografias em ocasiões como um casamento, ou qualquer coisa que se assemelhe, e onde possam comer de graça. Odeio-os porque nunca me souberam amar, porque só aprenderam a amar o nosso amor quando já não tinham que suportar ao vivo a nossa felicidade.
Detesto o mundo em que fui lançada à minha sorte. Detesto pensar na minha felicidade enquanto música numa outra vida. Detesto não poder ser sempre feita de compassos pausas e emoções prazerozas.
Detesto a maneira como fecho os olhos cada vez que te despedes com um beijo, e detesto ver o meu anel reluzir no parapeito da tua janela. Tira-o daí, por favor... está a deixar-me louca.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Uma pedra lançada no rio implica a agitação das águas k estavam paradas e de repente ficaram revoltadas. a loucura tb faz parte do amor. Gostei mt desta carta.

***

22.3.06  
Blogger TatianaCarvalho said...

Sim Helena, estás efectivamente louca! Não, não estás. Já alguma vez ouviste um louco dizer que está louco? Não. Isso porque eles acham sempre que são mto saudáveis e que outros todos é que não são deste mundo.
Mas realmente faltam-te uns parafusitos...
"Odeio-os porque nunca me souberam amar, porque só aprenderam a amar o nosso amor quando já não tinham que suportar ao vivo a nossa felicidade." deve ser dificílimo suportar a felicidade...ui...ui!O Sr. nos Livre!
Apesar disso devo confessar que gostei muito da metáfora das flores de plástico... oh oh, como tens razão... flores de plástico é o que há mais por aí...
E gosto que este blog seja saudável... primeiro os actimeles (que já n sei a que propósito eh que vieram) e ag os essenciais aki retratado no puto dos porquês. Vocês têm pinta, sim sra.

22.3.06  
Anonymous Anónimo said...

Oh helena, tas nada louca, tas é confusa e baralhada e não sabes se estás a fazer e se não te irás arrepender. Acredita que eu passo por mil momentos desses, mas no fim tudo se resolve pelo melhor...e a tua familia adora-te de certeza...tem calma e tudo correrá bem.

Beijinho

22.3.06  

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