Amor Selado                          

As cartas do nosso amor que por amizade selamos.

segunda-feira, 20 de março de 2006

Querida Helena,
Hoje escrevo-te aninhado no sofá com o cobertor vermelho a cobrir-me as pernas e a melancolia a cobrir-me a consciência. A chuva vai compassando o piano que que sai do negro da coluna. Toda esta placidez e quando penso que estivemos quase a cruzarmo-nos o meu coração agita-se e o fogo nasce na minha face. A melancolia traz os porquês. E o pior é não lhe saber responder. Ela pergunta insitentemente como o puto da televisão. "Porquê?" -Medo talvez "Porquê?" -porque encontrá-la é tudo o que eu não preciso agora. "Porquê?" - porque isso seria ter de ver se a casa resiste ao furacão e não posso viver sem casa agora. Acabo a conversa assim com uma metáfora e ela cala-se roendo o osso procurando o pedacinho de carne.
Agora percebo porque me senti mal perto da Joana. Tenho que falar com ela, não quero perder a amizade dela. Vou-lhe pedir que nos deixe a um canto, que faça de conta que tudo não se passa porque ela como toda a gente não vai ser capaz de compreender a nossa separação. E nós já não podemos com mais porquês.Pelo menos eu.Estou farto dos meus, dos da minha mãe, dos dos nossos amigos.
Fico contente com as primeiras palavras do Gui e estou morto por o ver. Espero que o teu almoço em casa da tua avó tenha sido pacífico pelo menos. Eu fui tomar café com o Rodrigo no sábado depois de almoço e cheguei a casa já noite dentro. É por isso que é espetacular falar com ele. Podemos passar horas numa mesa sem o assunto acabar, e sem ter conversas dolorosas. Já tinha saudades daquelas conversas. Levantei-me cedo no domingo porque fui almoçar com os meus tios á Póvoa. Não me arriscava a chegar atrasado e a ouvir o habitual sermão do meu tio. Foi agradável, a distância do Porto fez-me bem, e o mar raivoso distrai-me o coração. Vou passar a fugir nos domingos mais vezes.
Despeço-me ainda com o cobertor nos joelhos mas com a melancolia atirada a um canto. As saudades? Essas ainda me aquecem o peito. Um beijo meu amor.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esta carta está mmmuuiitto ternurenta...continuem e um beijinho muito grande pos dois:~)

20.3.06  
Blogger TatianaCarvalho said...

opá, eu já tava aki toda filada que ia escrever que esta carta tem partes especiais e partes não tão especiais. Sim, que ag o problema é que me habituáste a uma fasquia demasiado elevada.
Até que tu no final, no teu jeito habitual de me passar o tapete acabas a carta com:
"Um beijo meu amor"
Rendi-me.

22.3.06  

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