Amor Selado                          

As cartas do nosso amor que por amizade selamos.

quarta-feira, 8 de março de 2006

Querido Pedro,
Sei que me amas, sei que me odeias, ambos os sentimentos são, inevitavelmente, companheiros, afinal, qual seria a lógica do amor sem o ódio? A mesa não chegou cá, mas tu chegaste ao ponto de a atirar, a prová-lo está a tua última carta, estra provocou mais estragos no meu apartamento do que possas alguma vez imaginar.
Não podemos voltar para trás, mas podemos olhar e recordar. Nada do que vivemos poderá ser apagado e não é tentando esquecê-lo que vamos esquecer o que sentimos, para isso temos que lembrar, e aceitar que acabou.
Faço-te isto porque te adoro, como amante e como amigo. Faço-te isto porque apesar de alguma possível frieza (leia-se firmeza) eu nunca deixei de ser humana. Aquele Rio faz parte da nossa vida, não vale a pena mentir a nós próprios e pensar que ele nunca existiu. Aconteceu Pedro, não há nada que possas fazer para mudar isso, nem eu te perdoaria se me tentasses convencer do contrário.
Não posso esquecer a amizade antes daquele dia, sabes tão bem quanto eu que é essa amizade que nos mantém em contacto. É essa amizade que me faz levantar da cama e encarar o mundo que me bombardeia com perguntas em relação a ti.
Não digas que não sabes fazer nada bem sem mim, é mentira. Magoas-me, fazes-me sorrir, chorar, gritar, e consegues fazê-lo muito bem.
Não te preocupes mais, já fui ao médico. Não passa de um esgotamento. Já o devia prever, disse-te que o trabalho na agencia era mais que muito e que só de olhar para os projectos espalhados pela secretária já me doía a cabeça. Enfim, vou aproveitar esta semana para descansar, esta semana e nem mais um dia, sabes que não gosto de meter baixa por tudo e por nada. Para além disso, o "logo se vê" do Dr. Cerqueira não me sai da cabeça, perder o emprego seria a gota de água para mim.
Sei bem que já passou um mês desde a primeira carta, sei bem que nunca percebeste bem como se escreve uma, mas também não me interessa. Nenhum de nós segue outras regras senão as nossas. Foi em Janeiro que nos separámos e desde Janeiro que não sei bem o que faço, também eu sinto a tua falta, também eu adormeço agarrada á almofada na esperança de te sentir.
Sei que não gostas de poesia, sei que só a sabes apreciar quando declamada em voz alta, mas a minha voz não pode chegar até ti. Ofereço-te palavras de Pablo Neruda,

"Desgraças do mês de Janeiro quando o indiferente
meio-dia instaura a sua equação no céu,
um ouro duro como o vinho duma taça cheia
enche a terra até aos seus limites azuis.

Desgraças deste tempo semelhante a uvas
pequenas que juntaram verde amargo,
confusas, escondidas lágrimas dos dias,
até que a intempérie divulga os seus cachos.

Sim, germes, dores, tudo o que palpita
aterrado, à luz crepitante de Janeiro,
amaducerá, arderá como arderam os frutos.

Divididos estarão os pesares: a alma
soprará como o vento, e a morada
ficará limpa com o pão fresco na mesa"

Despeço-me, e fico aguardando ansiosamente pelas tuas palavras, pelo teu cheiro no papel, pelo sentir, pela Amizade.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Amor e ódio...exes sentimentos tão complexos e diferentes, mas no entanto tão proximos k cmo um casal andam sempre lado a lado. Continuo a pensar porque é k nao podem voltar atrás...mas exe é um enigma k tem d permanecer pa nos fazer fikar colados ao amor selado.
Mais uma carta mt bem escrita c o selo d kualidade k nos habituaram...será k o encontro entre os dois está pa breve...hmmm...mais uma situação k continua a permanecer no segredos dos deuses.

beijos fofos***

8.3.06  
Anonymous Anónimo said...

Gostei. Mais uma carta que por um lado me deixou triste por ver a impossibilidade de ambos se juntarem quando se nota claramente que esta é a sua vontade, e feliz por ver que ainda não foi desta que se juntaram o que possivelmente poderia acabar com estas cartas... Ainda bem que a Helena não tem nada de incurável e que o pedro tem a acapacidade de análise suficientemente boa para nunca ter tentada atirar a mesa contra a janela dela. Um beijinho para ambos...sigam assim!!

9.3.06  
Blogger Zana said...

bom, a mesa foi psicologicamente lançada e só quem quem tem a sensibilidade para ve-lo como a Helena podia construir uma resposta tao profunda comoo esta... é incrivel que nem o o passar dos dias nos muda a visao desta história porque também voces sao tao constantes como os sentimentos envolvidos...
A mim confunde-me muito este ver de a separação como a soluç
ão, tenho mesmo noção que nutro em mim a secreta sensação quie no fim vai hacver uma escapatória de exaustão:o)
adoro mesmo***

9.3.06  

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