Amor Selado                          

As cartas do nosso amor que por amizade selamos.

sábado, 4 de março de 2006

Querida Helena,
As chamas da tua carta não me deixaram indiferente, bem sei que não queres que fique preocupado mas as notícias que me deixas deixam em mim a inquietação que à muito venho sentindo. Espero que o médico não traga más noticias e que tudo não passe de cansaço. Aproveita a semana para descançar, vai até ao mar repousa nele as tuas preocupações e liberta-te do fardo do emprego. Bem sei que largar algo tão importante para ti é muito difícil mas se não descansares esta semana vais ter de descançar um mês. Não vás ao rio. É tudo o que te peço.
Pediste-me que fosse ver a tua avó. Fui. Não foi fácil. Só a viagem de comboio e todo o cenário que encontrei me gritavam que não pertencia ali, pelo menos sem ti. Prossegui, por respeito a ti e à tua avó. Ao bater na porta que me parecia enorme quase fugi de medo. Não fora a calma e carinhosa face da tua avó a sorrir-me tinha-o feito. Entrei e conseguindo resistir às vontades da tua avó para tomarmos chá prosseguimos para o jardim. O sol tornava todo o ambiente verde ao reflectir-se nas folhas. Sentamo-nos junto da trepadeira e a tua avó pôs o xaile sobre as pernas e eu gelei o rosto para que não se derretesse perante a tua ausência. Ao contrário de ti não me sinto obrigado a deixar a nossa conversa naquele jardim, ao invés sinto que tens que a ouvir. Sei que a tua avó nunca ta contaria. Comecei por lhe perguntar sobre ti, sobre o que ela viu em ti. Ela disse-me o que eu sabia. Viu-te no rosto as olheiras do sofrimento e da dor. Mas viu também o nariz erguido e a testa lisa de decisão e disse-me que não irias voltar atrás. Ouvir aquilo da boca dela costou mais que mil cartas geladas de ti. Como se a idade lhe desse um peso de certeza, como um velho mestre traçando com certeza o percurso do seu discípulo. A minha cara deixou-se trair e os sentimentos transbodaram dela. A tua avó pegou na minha mão e perguntou-me quem tinha decidido o nosso destino. Eu respondi-lhe que fomos os dois, que nenhum tinha mais culpa e que ambos o fizeramos sem pressões. Mas a face macia dela tocou-me o coração e não consegui deixar de lhe dizer que apesar de termos ambos culpa, a minha era uma arrependida, que o fizera e faço, mas que não residia mais em mim essa vontade. A tua avó respondeu como só ela consegue: "Se dois gatunos cometerem um crime ainda que um chore aquando da prisão ambos vão para a cadeia. Já és crescidinho Pedro e não precisas que te diga que se tomaste uma decisão não podes voltar atrás. E tu conheces a Helena tão bem como eu, e sabes que ela por muito que lhe doa nunca te vai dizer para voltarem atrás." A minha cabeça baixou-se e não consegui dizer nem mais uma palavra para além das cordialidades à saída. A tua avó beijou-me a testa e durante toda a viagem senti o beijo a correr na minha cabeça com as suas palavras a ecoarem repetidamente.
Agora que te escrevo e enquanto a chuva lambe a minha janela vou-te dizer o que a ela não lhe disse. As grades da prisão não duram para sempre e quando sair não vou voltar a cometer o mesmo crime. Desculpa se te choco, desculpa se te desiludo, mas acho que mereces saber que os meus braços não se vão baixar. Não te preocupes que não te vou bater à porta esperando que me deixes entrar. Vou cumprir a minha pena, mas chegará a altura de sair, e quando essa altura chegar eu vou avisar-te.
Espero sinceramente que as minhas palavras não te inquietem, e que melhores. Hoje durmo na sala para que possas descançar os olhos, e com alguma sorte a cabeça. Beijo-te a mão com o olhar na tua face, porque se te beijar a testa já não te vejo.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

tou uma vez mais sem palavras...esta carta...nao sei mm k dixer..espero k compreendam...

4.3.06  
Blogger Liliana Bárcia said...

ah.. pois... ves? muito bem, foi bem pensada a conversa com a avó da Helena..

pois...

de resto acho q morri a ler esta carta... pois... enfim...

5.3.06  
Anonymous Anónimo said...

impresionante exta carta ja li e reli e n m canso, a conversa c a avó tão sábia e acolhedora, a discriçao da viagem. Um gd momento do amor selado.

PARABÉNS

6.3.06  
Blogger TatianaCarvalho said...

ora vamos lá começar a dissecar a coisa:
1 -"A tua avó beijou-me a testa e durante toda a viagem senti o beijo a correr na minha cabeça (...) enquanto a chuva lambe a minha janela ..." - isto devo confessar que é uma imagem horrivel. soltei um abafado hiuw! quando as li.
2 - "porque se te beijar a testa já não te vejo." - redimiste-te da visão nojenta de cima..

E devo dizer que eh das minhas cartas favoritas...

15.3.06  

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